ODiabetes é um dos maiores desafios para a saúde pública da atualidade. Estima-se que 415 milhões de adultos sejam afetados pelo diabetes ao redor do mundo, e este número vem crescendo de forma alarmante, associado ao aumento da obesidade e do sedentarismo. A Federação Internacional de Diabetes projeta que o número de casos ultrapasse os 640 milhões em menos de 15 anos e todos os anos desenvolvemos campanhas de conscientização para orientar a população em geral sobre isso. Novembro é nosso foco e faremos atividades em todo o país, sobretudo dia 14 de novembro, dia mundial do Diabetes.
No Brasil, há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença. O Diabetes, de maneira geral, é uma doença crônica, incurável e que requer um grande envolvimento e educação do paciente para que o tratamento seja bem sucedido. A doença acontece quando o corpo não consegue manter os níveis de glicose controlados, em consequência da deficiência de produção e/ou de ação da insulina. O diagnóstico é feito, resumidamente, quando a glicose no sangue em jejum ultrapassa 126mg/dl e chamamos de pré-diabetes quando a glicose se situa entre 100 e 125mg/ dl. Os três principais tipos de diabetes são:
• O Diabetes Tipo 2, o mais frequente, corresponde a cerca de 90% dos casos, se desenvolve geralmente após os 40 anos de idade e pode evoluir, lentamente, ao longo do tempo sem apresentar sintomas. Tem relação com excesso de peso, sedentarismo e história familiar de Diabetes. Inicialmente, o pâncreas produz insulina, mas ela não funciona bem. Com a evolução da doença a produção de insulina vai diminuindo. O diabetes tipo 2 pode ser evitado por meio de hábitos de vida saudáveis e da manutenção de um peso ideal.
• O Diabetes Tipo 1 corresponde de 5% a 10% de todos os casos de Diabetes, pode ocorrer em qualquer idade, mas na maioria dos casos é diagnosticado na infância e adolescência. Ao contrário do Diabetes Tipo 2, o Tipo 1 evolui rapidamente, apresenta muitos sintomas e não tem como ser evitado. Neste caso, a doença é resultado de um processo autoimune onde o próprio corpo destrói as células produtoras de insulina e, por isso, o paciente necessita utilizar insulina diversas vezes ao dia, desde o diagnóstico. O Diabetes Tipo 1 não passa desapercebido, o paciente começa, subitamente, a urinar muito, beber muita água e perde peso, apesar de estar com muita fome e comendo mais.
• O Diabetes gestacional afeta de 3% a 18% das gestações, dependendo da população estudada e dos métodos de diagnóstico. Ocorre quando a alteração da glicose é detectada pela primeira vez durante a gestação. Todas as gestantes devem realizar exames para detectar o Diabetes. Caso a glicemia não seja mantida dentro de níveis adequados pode ter consequências sérias para a mãe e o bebê. Após o nascimento, os níveis de glicose podem voltar ao normal. Estas mulheres precisam ser acompanhadas de perto e apresentam maior risco de desenvolver Diabetes ao longo do tempo
Os pilares do tratamento do Diabetes são a dieta e a atividade física. No diabetes tipo 2 utilizamos também medicações orais ou injetáveis e até 50% dos pacientes pode precisar de insulina em algum momento. Todos os pacientes com Diabetes devem conhecer bem a doença e medir os níveis de glicose no sangue ou no líquido intersticial para orientar o tratamento. A frequência das medições deve ser estipulada pelo médico, no Tipo 2, e no tipo 1 deve ser feita várias vezes ao dia, para orientar as aplicações de insulina. Se o Diabetes for tratado adequadamente, o indivíduo pode ter uma vida longa, produtiva e saudável, caso contrário pode desenvolver complicações agudas e crônicas que afetam muito a qualidade de vida e a família.
Os resultados do tratamento do Diabetes podem ser avaliados pela glicemia feita no laboratório (em jejum ou após a alimenta- ção), pelo exame de hemoglobina glicada (que fornece uma ideia da média da glicemia dos últimos 3 a 4 meses) e pelos níveis de glicose medidos em casa. Como frequentemente o Diabetes não dá sintomas, muitos pacientes negligenciam a doença, e acabam sendo surpreendidos por graves problemas cardíacos, oculares, renais e neurológicos entre outros.
Assim, é fundamental a realização de exames periódicos e a avaliação médica regular. Em diversas estatísticas a retinopatia diabética é complicação mais temida, sendo a principal causa de cegueira evitável entre 20 e 74 anos de idade. Quando os níveis de glicose não estão controlados o Diabetes afeta a retina. A retinopatia evolui de forma silenciosa, até ocorrer um quadro súbito de sangramento ou descolamento da retina. Sem o diagnóstico e tratamento precoces, pode ocorrer o agravamento do quadro com perda visual irreversível. Como em alguns casos o diagnóstico demora, o paciente já pode ter complicações crônicas no momento em que descobre o Diabetes. Por este motivo, é recomendável que todos os pacientes com Diabetes realizem o exame da retina uma vez por ano. Só estão dispensados do exame anual crianças e Diabéticos tipo 1 com menos de 5 anos de doença.
O desenvolvimento e a gravidade da retinopatia estão intimamente relacionados ao tempo de duração do Diabetes e à qualidade do controle da glicemia, da pressão arterial e dos níveis de gorduras no sangue. O fumo também aumenta muito o risco de progressão da retinopatia, e deve ser evitado. É muito importante que o oftalmologista receba informações detalhadas sobre o Diabetes e, caso haja desenvolvimento de retinopatia, é fundamental que o médico que trata o Diabetes tenha ciência do quadro. Muitas vezes a conduta precisa ser discutida entre o médico clínico e o oftalmologista. Por exemplo, existem certas medicações para tratar a elevação das gorduras no sangue que podem ajudar no tratamento da retinopatia. Adicionalmente, durante um quadro de retinopatia grave ou de edema macular devem ser evitadas variações bruscas no controle da glicose e a ocorrência de hipoglicemias.
O tratamento do Diabetes evoluiu muito, entretanto a maioria das pessoas afetadas não atinge a meta de controle, estando sujeita a desenvolver as complicações da doença. Hoje, existem mais de oito classes de medicamentos para o tratamento do Diabetes Tipo 2, que agem em mecanismos distintos da fisiopatologia da doença. A decisão de qual a melhor medicação, ou combinação de medicações, para cada paciente, deve levar em conta diversos fatores, incluindo o desejo do paciente. As metas do tratamento também devem ser individualizadas, considerando a idade do paciente e a presença de outros problemas de saúde. Por isso, é fundamental que o indivíduo com Diabetes adquira informação e passe a ter uma postura ativa no gerenciamento da doença.
No Diabetes Tipo 1 a evolução é ainda maior, as primeiras bombas de insulina chegaram no Brasil em 2001 e o FDA acaba de aprovar a primeira geração de pâncreas artificial, que deve chegar ao mercado americano em meados de 2017. Acaba de ser lançado no país um sistema de monitoramento contínuo da glicose no líquido entre as células, que reduz a necessidade de medir a glicose furando a ponta do dedo. Então, é a tecnologia mudando a evolução da doença e melhorando a qualidade de vida das pessoas com Diabetes.
“O tratamento do Diabetes evoluiu muito, entretanto a maioria das pessoas afetadas não atinge a meta de controle, estando sujeita a desenvolver as complicações da doença.”
fonte: http://www.cbo.net.br/novo/publicacoes/revista_vejabem_n10.pdf